“A essência da vida é saber fingir, ocultando o fingimento, quando se finge, fingindo que não se finge.” Carlos Colaço
20 anos após ter escrito esta reflexão e as palavras continuam a fazer todo o sentido. Não o mesmo sentido que lhes atribuí aos 17 anos, mas um sentido agregado. Nunca deixou de fazer sentido, como acontece com algumas que escrevi na mesma época. Pelo contrário, cada vez mais o seu significado se apura. Tem vindo a mudar ao longo dos anos, é claro, mas nunca se perdeu. Fingimos que somos, sem ser. Fingimos que não somos, quando sabemos piamente que somos. Fingimos que temos, quando o que temos se aperta na mão fechada… e não sobra nada. Fingimos que não temos, quando afinal, qual atlas, transportamos o mundo nas costas, em nós. E ainda pensamos que todo este fingimento não transparece, que os mais pequenos indícios não nos denunciam. Nós percebemos o fingimento no outro, mas ele nunca percebe o nosso. Temos sempre a certeza de ser melhor do que o outro, até no fingir. Sejamos sociais e façamos como o outro nos faz: fingimos não perceber o fingimento de quem finge…
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1 comentário:
Muitas vezes, quando te leio, sinto Fernando Pessoa em ti. Hoje, para estar em concordância com o espírito, venho reavivar algo que escrevi em Abril de 2004 e que tem por base uma letra de António Variações:
insatisfação e ansiedade...
sinto-me em baixo... a vontade de ser útil é nula... não consigo dominar este estado de ansiedade que cada vez mais me arrasta.
tenho sobre mim a pressão do tempo a passar. apesar da pressa, o tempo nunca é suficiente para fazer o que era suposto fazer. mau é, quando nada do que era suposto fazer é feito...
esta minha pressa só me traz ansiedade e continuo a fugir não sei bem de quê... fujo da solidão?
há quem me queira dar a mão... mas eu recuso, será porque sou egoísta ao ponto de não querer partilhar, ou será que não sei em que consiste uma relação, seja ela de que cariz for...
continuo a rejeitar mas vou continuar a procurar a quem eu me quero dar... continuo só!
eu quero quem eu nunca vi e apenas quem ainda não conheci, continuo a querer quem nunca vi e quem eu ainda não conheci... não consigo perceber esta minha insatisfação doentia...
sinto que me estou a perder, vem outra vez aquela ansiedade que tanto tento controlar e continuo a ter pressa para fugir... tenho vontade de sair e quando voltar vou continuar a ter vontade de partir para outro lugar.
continuo à procura do meu cando, à procura do meu lugar... continuo só! continuo bem mas apenas a'onde não estou e só quero ir a'onde não vou mas... continuo bem, sempre onde não estou e apenas quero ir até onde não vou...
... permanece a insatisfação e a ansiedade
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